Estamos desde 12 de Março (pelo menos) numa situação totalmente nova para tod@s.
Estivemos em estado de emergência, fomos “obrigados” a ficar em casa durante semanas e semanas, longe de familiares, amigos, colegas, professores,... Percebemos a falta que nos fazem os abraços, a falta que nos fazem os amigos, a falta de que nos faz a liberdade. Famílias inteiras passaram a ficar fechadas em casa e passaram mais tempo juntas do que em qualquer outra altura. Pais e Mães passaram a fazer de professor@s, de enfermeir@s, de animador@s, de cozinheir@s, de empregad@s doméstic@s, enquanto tinham também de fazer homeoffice. Sentimos medo, raiva, desespero, saudade, preocupação, aprisionamento, dúvida, incómodo, confusão, exaustão, apatia, tensão, desconexão, esperança, expectativa, motivação, alegria, fé... às vezes, tudo isto no mesmo dia… A saúde mental vacilou um pouco em alguns casos, e quase desmoronou noutros (noutros, infelizmente desmoronou mesmo!). Não vivemos todos da mesma forma, com as mesmas condições, nem temos todos os mesmos recursos internos ativos. Seguiu-se uma possibilidade de desconfinamento para uma nova normalidade e alguns foram saindo cada vez mais, porque a saúde mental já reclama por contacto social (afinal, somos seres sociais!!) E fomos saindo. Atualmente vêem-se os números a disparar e rapidamente, muitos dos que ainda estão em casa, privados de estar com amigos e família dos grupos de risco, a fazer um co-relação causa-efeito entre quem desconfina em lazer (independentemente da forma segura ou não, que o faz) e este aumento de casos positivos. As zonas mais afetadas, atualmente, mostram ser em locais com bastante população desfavorecida socialmente. A precariedade habitacional, laboral e transportes estão na origem do aumento de casos nas zonas que neste momento estão em situação de calamidade. São pessoas que têm de ir trabalhar para poder comer, usam transportes públicos, porque não têm alternativa e os transportes estão sobrelotados. São pessoas que têm baixa condição social, que vivem sem condições grandes condições de higiene, mas que eram as condições que já tinham antes. O COVID não veio obrigar estas pessoas a terem hábitos básicos que nunca tiveram (porque não foram ensinadas, afinal não nascemos todos com o mesmo privilégio - ter uma casa minimamente confortável com água (quente), luz, uma cama onde dormir, roupa limpa, receber o exemplos de higiene diária desde a infância... isto ainda não está ao alcance de tod@s!) As pessoas continuam frustradas, porque ainda estamos longe de nos livrarmos deste vírus e de voltarmos à normalidade. E esta frustração está a tornar-nos ainda mais intolerantes uns com os outros. Pelas redes sociais vêem-se posts de pessoas a apontar o dedo a quem anda na rua sem máscara, a quem está na esplanada (independentemente de estarem a cumprir as regras de segurança), porque vão à praia sem máscara, a quem vai ao shopping (sem saber as razões da sua escolha)... E, de repente, há um clima de enorme julgamento: os momentos de lazer são a causa imediata destes números. Como se este vírus fosse um malandro e andasse a castigar aqueles que vão desconfinando em lazer, independentemente de tomarem ou não precauções. As entidades que acompanham a situação já indicaram as principais razões da subida dos números. Vários estudos indicam que o vírus é destruído pelos raios UV. A saúde mental tem uma forte influência no nosso sistema imunitário. Quanto mais saudáveis formos emocional e mentalmente, mais forte se torna o nosso sistema imunitário. Para além disto, esta atitude julgadora acaba por gerar culpa nas pessoas, em vez de responsabilidade. Resultado: há pessoas que têm teste positivo de COVID-19 e têm vergonha disso. Em vez de terem comportamentos responsáveis, isolarem-se temporariamente e pedirem ajuda para serem cuidadas (nomeadamente para poder comer), escondem a sua situação, continuam a sua vida por vergonha do estigma, do julgamento pela forma como poderão ter sido contagiadas. E o resto desta história já imaginamos como poderá ser... E isto faz-me lembrar o que fazemos frequentemente com as crianças: julgamos os seus comportamentos como certos ou errados, bons ou maus, apontamos o dedo, castigamos e culpamos. Rapidamente a criança aprende que, quando “faz algo de errado”, é importante evitar a responsabilidade para proteger-se. E mente. Não se responsabiliza, porque sabe que vai ser castigada. Quem é que gosta de ser castigado, se pode evitá-lo? Se permitirmos à criança aprender com as consequências naturais dos seus atos, ela vai aprender a ter responsabilidade pessoal. Talvez possamos ser mais empáticos e menos julgadores uns com os outros: “Estás mesmo farto desta treta do vírus… eu também! É difícil estar sempre fechado em casa. É mesmo importante que, quando vais sair, uses máscara em espaços fechados e mantenhas a distância de segurança em espaços abertos. Assim quebramos cadeias de contágio e mais depressa podemos voltar a mais próximos uns dos outros de fora segura”. “Esqueceste-te da máscara? Acontece e é importante criares o hábito de teres uma, pelo menos, num saco dentro da tua bolsa.” “Mantém-nos a todos em segurança!” E com estas pessoas que vivem em bairros desfavorecidos, alguma compassividade e paciência. Irão ser alvo do programa “bairros saudáveis”, com objetivos de melhoria das condições de habitabilidade e das condições de higienização dos bairros. Que possamos ser exemplo de conduta, na via pública, daquilo que esperamos uns dos outros. E sempre que possível, que possamos ajudar de alguma forma… quanto mais não seja, não apontando o dedo. #maisempatiapordianãosabesobemquetefazia #maisamorporfavor #empatia #responsabilidade #castigosvsconsequências
0 Kommentare
|