Mais uma voltinha, mais uma viagem... E amanhã recolhemos as nossas crianças (há quem já o esteja a fazer hoje). Já vivemos algo semelhante em Março de 2020. Para algumas famílias esta experiência foi bem dolorosa, porque exigiu que alternássemos os nossos papéis vezes sem conta, que acrescentássemos ainda mais papéis que eram de outros personagens, e isto com demandas de adaptação constantes e com o isolamento físico e social, pouco natural no ser humano. Uma parte do que está a passar-se já não é novidade e portanto o momento não é exatamente igual ao de Março. Hoje temos mais bagagem, mais informação que não tínhamos em Março. Hoje quero deixar uma forma diferente de olhar este confinamento, que serve para os próximos tempos, mas serve para sempre, no nosso dia-a-dia. Que as famílias possam olhar para este confinamento usando as 7 atitudes do Minfulness (muito presentes numa Parentalidade Consciente): ✼ Não-Julgamento: é um novo confinamento; e é como é. Não vamos julgá-lo como bom ou mau. Vamos estar fechados em casa 24h/dia (ou aproximadamente), ter de realizar as tarefas que já fazíamos e acumular aquelas que outros cuidadores faziam com os nossos filhos. Mais uma vez, olhemos para ele como é - um confinamento -, sem julgar se é bom ou mau. ✼ Paciência: tudo tem o seu tempo para a acontecer. Assim como nenhuma borboleta pode surgir mais cedo se abrirmos o casulo, também não podemos esperar que a nossa adaptação e a dos nossos filhos a este novo confinamento seja feita sem a nossa paciência. Sejamos pacientes com eles e seremos também connosco. A vida flui e estamos em paz com isso. ✼ Mente de Principiante: olhemos para este confinamento como se de uma coisa nova se tratasse. Sei que é difícil deixar de lado as crenças e a experiência que tivemos com o confinamento anterior. No entanto, aproveitemos o crescimento que tivemos nos últimos tempos, o crescimento dos nossos filhos, e olhemos para isto como se fossemos vivê-lo pela primeira vez, porque é mesmo isso que está a acontecer. Estamos a viver cada momento de uma forma única, porque não somos hoje aquilo que éramos ontem. Perceberemos que cada momento é único e não voltará a ser vivido. ✼ Confiança: confiemos em nós, no nosso corpo, nas nossas emoções, na nossa intuição (aquela voz suave que te segreda quando consegues silenciar o caos da tua mente, acompanhada daquele ímpeto que surge do centro do teu peito - o teu coração). E mesmo que erremos, assumamos a responsabilidade por esse erro e transformemo-lo numa aprendizagem. E assim confiamos que tudo está certo e que não podia ser diferente. Confiemos na única certeza que podemos ter: tudo muda; nada dura para sempre. ✼ Não-esforço: é importante prestarmos atenção ao nosso estado emocional a cada momento. Temos objetivos diários a cumprir e nem sempre eles vão ser cumpridos. Façamos o que é necessário fazer para que cumpramos as nossas tarefas, mas sem esforço. Apenas seguindo o fluir da vida. Usar o fluxo da vida para cumprir o que nos propomos diariamente, sem pretender mudar nada e com foco no momento presente. Como quando perdemos alguma coisa e andamos arduamente à procura... e só encontramos quando nem a estávamos a procurar, no fluxo do dia-a-dia. ✼ Aceitação: aceitar é estar em paz com o que nos é apresentado. Estamos confinados e estamos em paz com isso. Quer concordemos ou não com as medidas que têm vindo a ser implementadas, aceitar é estar em paz com isso. Também não quer dizer que aprovamos o facto de estarmos confinados, o facto de estarmos a trabalhar nas condições em que estamos, ou o facto de algumas famílias estarem a ter mais dificuldades que outras, por desigualdades sociais e económicas... aceitamos tudo isso e estamos em paz. Não quer dizer que não podemos fazer nada quanto a isso. Podemos aceitar que é assim, estar em paz com isso e encontrar soluções que promovam a mudança de algumas condições (enviar cabazes de compras, por exemplo, ou podemos oferecer-nos para uma conversa virtual com alguém mais sozinho...). Dar foco ao que podemos mudar. Quando aceitamos, a clareza torna-se nossa aliada, trazendo-nos a sabedoria necessária para perceber o que fazer. ✼ Deixar ir/Deixar Estar: é aquilo que fazemos todas as noites, quando deitamos a cabeça na almofada, para adormecer. Se conseguimos praticar as 6 atitudes que descrevi acima, esta acontece de forma espontânea. Se não acontecer, ganhamos uma oportunidade para investigar o que nos está a deixar agarrados à situação. Agora, com mais recursos na bagagem, com mais crescimento nosso e dos nossos filhos, desejo que tenhamos muita sabedoria para ativar os melhores recursos que ganhámos e usá-los.
O meu papel, nos próximos tempos, será estar ao serviço das famílias que precisarem de apoio. Apoio Psicológico, apoio na gestão emocional deste momento, apoio na comunicação. Estarei ao serviço por donativo livre. Para que ninguém fique de fora. Se precisares de ajuda, liga-me. Estou aqui! Eu oiço-te e eu vejo-te... Não estás sozinh@. Mónica Barbosa Mãe em Construção
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Desde 2015, todos os anos penduro o nosso calendário do advento. Umas luvas de Pai Natal em feltro, ornamentadas e lá dentro... Lá dentro, todos os dias de Dezembro sai um figura do presépio em iman para colocarem no frigorífico.
Este ano queria acrescentar algo para satisfazer um pouco a necessidade de novidade... Como evito dar-lhes doces, os habituais calendários do Advento com chocolates não são uma opção. Depois de muito pensar, procurar ideias e deixar tudo para a última da hora (hábito que preciso de melhorar), lembrei-me de algo que pode ser giro e pode trazer novidade durante os próximos 24 dias... A mensagem que procuro passar (sobretudo) no Natal é que o melhor presente é a nossa presença, que o melhor do Natal são as pessoas. E este ano, a presença virtual está a ganhar mais espaço nas nossas vidas, pelas razões que tod@s conhecemos. E para isso, lembrei-me que todos os dias eles poderiam tirar, do Calendário do Advento, uma mensagem de alguém que faz parte da vida deles, com maior ou menor presença no momento atual, mas de quem gostava que se lembrassem. Então, enviei (vou enviar, às 00h30 do dia 1 de Dezembro!!!) uma mensagem aos familiares e amigos: "Olá! Estamos a entrar em Dezembro e gostava que fizesses parte do Calendário do Advento da M e do M. Todos os dias vão ver um video com uma mensagem de alguém. Pode ser uma pequena história, uma canção, uma piada, uma adivinha, uma mensagem especial... todos os dias! O video deve ter (preferencialmente) até 1 minuto. Se queres participar, envia-me o teu video o quanto antes!... Porque o melhor do Natal são as pessoas!" Depois de receber os videos, coloco-os numa Cloud e transformo o link de partilha de cada video num QrCode. Imprimo o QrCode e coloco dentro das luvas de Pai Natal do nosso calendário... Vai ser lindo e especial! Já os imagino muito entusiasmados, à chegada da escola, a arrancarem-me o telemóvel para poderem descobrir de quem será a mensagem que vão receber. E vocês, usam calendário do Advento? Partilhem comigo os vossos calendários! Quero aprimorar as ideias para o próximo ano! Estamos desde 12 de Março (pelo menos) numa situação totalmente nova para tod@s.
Estivemos em estado de emergência, fomos “obrigados” a ficar em casa durante semanas e semanas, longe de familiares, amigos, colegas, professores,... Percebemos a falta que nos fazem os abraços, a falta que nos fazem os amigos, a falta de que nos faz a liberdade. Famílias inteiras passaram a ficar fechadas em casa e passaram mais tempo juntas do que em qualquer outra altura. Pais e Mães passaram a fazer de professor@s, de enfermeir@s, de animador@s, de cozinheir@s, de empregad@s doméstic@s, enquanto tinham também de fazer homeoffice. Sentimos medo, raiva, desespero, saudade, preocupação, aprisionamento, dúvida, incómodo, confusão, exaustão, apatia, tensão, desconexão, esperança, expectativa, motivação, alegria, fé... às vezes, tudo isto no mesmo dia… A saúde mental vacilou um pouco em alguns casos, e quase desmoronou noutros (noutros, infelizmente desmoronou mesmo!). Não vivemos todos da mesma forma, com as mesmas condições, nem temos todos os mesmos recursos internos ativos. Seguiu-se uma possibilidade de desconfinamento para uma nova normalidade e alguns foram saindo cada vez mais, porque a saúde mental já reclama por contacto social (afinal, somos seres sociais!!) E fomos saindo. Atualmente vêem-se os números a disparar e rapidamente, muitos dos que ainda estão em casa, privados de estar com amigos e família dos grupos de risco, a fazer um co-relação causa-efeito entre quem desconfina em lazer (independentemente da forma segura ou não, que o faz) e este aumento de casos positivos. As zonas mais afetadas, atualmente, mostram ser em locais com bastante população desfavorecida socialmente. A precariedade habitacional, laboral e transportes estão na origem do aumento de casos nas zonas que neste momento estão em situação de calamidade. São pessoas que têm de ir trabalhar para poder comer, usam transportes públicos, porque não têm alternativa e os transportes estão sobrelotados. São pessoas que têm baixa condição social, que vivem sem condições grandes condições de higiene, mas que eram as condições que já tinham antes. O COVID não veio obrigar estas pessoas a terem hábitos básicos que nunca tiveram (porque não foram ensinadas, afinal não nascemos todos com o mesmo privilégio - ter uma casa minimamente confortável com água (quente), luz, uma cama onde dormir, roupa limpa, receber o exemplos de higiene diária desde a infância... isto ainda não está ao alcance de tod@s!) As pessoas continuam frustradas, porque ainda estamos longe de nos livrarmos deste vírus e de voltarmos à normalidade. E esta frustração está a tornar-nos ainda mais intolerantes uns com os outros. Pelas redes sociais vêem-se posts de pessoas a apontar o dedo a quem anda na rua sem máscara, a quem está na esplanada (independentemente de estarem a cumprir as regras de segurança), porque vão à praia sem máscara, a quem vai ao shopping (sem saber as razões da sua escolha)... E, de repente, há um clima de enorme julgamento: os momentos de lazer são a causa imediata destes números. Como se este vírus fosse um malandro e andasse a castigar aqueles que vão desconfinando em lazer, independentemente de tomarem ou não precauções. As entidades que acompanham a situação já indicaram as principais razões da subida dos números. Vários estudos indicam que o vírus é destruído pelos raios UV. A saúde mental tem uma forte influência no nosso sistema imunitário. Quanto mais saudáveis formos emocional e mentalmente, mais forte se torna o nosso sistema imunitário. Para além disto, esta atitude julgadora acaba por gerar culpa nas pessoas, em vez de responsabilidade. Resultado: há pessoas que têm teste positivo de COVID-19 e têm vergonha disso. Em vez de terem comportamentos responsáveis, isolarem-se temporariamente e pedirem ajuda para serem cuidadas (nomeadamente para poder comer), escondem a sua situação, continuam a sua vida por vergonha do estigma, do julgamento pela forma como poderão ter sido contagiadas. E o resto desta história já imaginamos como poderá ser... E isto faz-me lembrar o que fazemos frequentemente com as crianças: julgamos os seus comportamentos como certos ou errados, bons ou maus, apontamos o dedo, castigamos e culpamos. Rapidamente a criança aprende que, quando “faz algo de errado”, é importante evitar a responsabilidade para proteger-se. E mente. Não se responsabiliza, porque sabe que vai ser castigada. Quem é que gosta de ser castigado, se pode evitá-lo? Se permitirmos à criança aprender com as consequências naturais dos seus atos, ela vai aprender a ter responsabilidade pessoal. Talvez possamos ser mais empáticos e menos julgadores uns com os outros: “Estás mesmo farto desta treta do vírus… eu também! É difícil estar sempre fechado em casa. É mesmo importante que, quando vais sair, uses máscara em espaços fechados e mantenhas a distância de segurança em espaços abertos. Assim quebramos cadeias de contágio e mais depressa podemos voltar a mais próximos uns dos outros de fora segura”. “Esqueceste-te da máscara? Acontece e é importante criares o hábito de teres uma, pelo menos, num saco dentro da tua bolsa.” “Mantém-nos a todos em segurança!” E com estas pessoas que vivem em bairros desfavorecidos, alguma compassividade e paciência. Irão ser alvo do programa “bairros saudáveis”, com objetivos de melhoria das condições de habitabilidade e das condições de higienização dos bairros. Que possamos ser exemplo de conduta, na via pública, daquilo que esperamos uns dos outros. E sempre que possível, que possamos ajudar de alguma forma… quanto mais não seja, não apontando o dedo. #maisempatiapordianãosabesobemquetefazia #maisamorporfavor #empatia #responsabilidade #castigosvsconsequências
Ouvi pela primeira vez uma adaptação desta história há uns 2 anos, partilhada pela Mikaela Övén.
Gostei tanto que procurei o livro, mas não encontrei uma versão em português do original da Audrey Penn. Então encontrei no youtube a versão original da história, contada pela Barbara Bain. O meu filho parece o guaxinim desta história, o ano inteiro. Não é que ele não goste do jardim de infância... ele gosta mais é de ficar em casa, com a Mamã. Depois de um mês de férias, apesar de mencionar que tinha saudades dos amigos da escola, dizia que queria ficar em casa. Como sabia que ia ter mudanças (ia mudar de educadora, a turma ia ser dividida e ia deixar de estar com muitos dos seus amigos, a irmã já não ia para a mesma escola...) contei-lhe esta história para apaziguar a ansiedade dele (e a minha, porque custa-me um bocadinho ouvi-lo dizer que quer ficar em casa comigo). No 1º dia que o deixei no jardim de infância, dei-lhe um beijinho na palma de cada mão. Ele pareceu-me ficar bem, a brincar. No final do dia, quando o fui buscar, perguntei-lhe como se tinha sentido e disse-me que tinha estado bem, que tinha brincado... No dia seguinte voltei a repetir o presente da palma das mãos. À tarde queixou-se que tinha perdido os beijinhos. Prometi que no dia seguinte lhe ia dar muitos para não perder. E assim foi. Voltou a confirmar-me que usou os beijinhos. E assim tem sido a nossa rotina antes de o deixar no jardim de infância ou com quem o deixa no jardim de infância naquele dia. Agora ele também que quer deixar os beijinhos dele para eu não sentir falta dele e quer receber também beijinhos do pai e da irmã na mão dele. Ontem disse-me que recebeu na sala uma amiga nova. E que ela chorou tanto por não ter a sua mãe que ele ficou com dor de ouvidos. Comentou: - Acho que a mãe dela não lhe deu beijinhos na mão para ela não ter saudades!... Todas as crianças são diferentes, reagem de forma diferente. Deixo-vos esta 'ferramenta' que talvez possam usar para ajudarem as vossas crianças a lidar com a ansiedade (especialmente para aquelas que entram na escola pela primeira vez, experimentam um novo ciclo ou algum tipo de mudança). Bom ano letivo para todas as crianças e para as suas famílias... ☆ Kids Coaching (Método KidCoaching®) ☆ Coaching Parental ☆ Educação Emocional ☆ Workshops de Parentalidade Consciente ☆ Rodas de Pais Marca a tua sessão: ☞ [email protected] ☞ 918863580 ☆ Sessões Presenciais ou Online ☆
A Mão que Beija, por Audrey Penn
O guaxinim Chester parou do lado de fora da floresta e chorou: - Eu não quero ir para a escola! - disse ele à mãe - Eu quero ficar em casa contigo. Quero brincar com os meus amigos. E brincar com os meus brinquedos. E ler os meus livros. E baloiçar-me no meu baloiço. Por favor, posso ficar em casa contigo?” A sra. Guaxinim pegou Chester pela mão e falou-lhe ao ouvido - Às vezes temos de fazer coisas que não queremos - disse ela gentilmente -, mesmo que pareçam estranhas e assustadoras no início. Mas vais adorar a escola, assim que começar. Vais fazer novos amigos. E brincar com brinquedos novos. E ler livros novos. E baloiçar-te em baloiços novos. Além disso, - acrescentou - eu conheço um segredo maravilhoso que fará com que as tuas noites na escola pareçam tão quentes e aconchegantes quanto os teus dias em casa. Chester enxugou as lágrimas. Parecia interessado. - Um segredo? Que tipo de segredo? - Um segredo muito antigo -, disse a sra. Guaxinim - Aprendi com a minha mãe, e ela aprendeu com a dela. Chama-se A Mão que Beija… - A Mão que Beija? - Perguntou Chester - O que é isso? - Eu vou mostrar-te. A Sra. Guaxinim pegou na mão esquerda do Chester e abriu os dedos minúsculos em leque. Inclinando-se para a frente, beijou o Chester no meio da palma da mão dele. Chester sentiu o beijo da mãe percorrer a sua mão, subir pelo seu braço até ao seu coração. Até a sua máscara preta e sedosa formigava com um calor especial. A senhora Guaxinim sorriu. - Agora… - disse ela ao Chester - Agora, sempre que te sentires sozinho e precisares de um pouco de amor de casa basta encostar a tua mão na bochecha e pensar: "A Mamã ama-te. A Mamã ama-te." E esse beijo vai saltar para a tua cara e encher-te de pensamentos quentinhos. Ela pegou na mão do Chester e cuidadosamente envolveu os seus dedos à volta do beijo. - Agora, tem cuidado para não o perderes - brincou ela. - Mas não te preocupes. Quando abrires a mão e lavares a tua comida, prometo que o beijo vai ficar. Chester adorou a sua Mão que Beija. Agora ele sabia que o amor da mãe iria com ele onde quer que fosse. Mesmo para a escola. E naquela noite, Chester parou em frente à escola e ficou pensativo. De repente, viro-se para a mãe e sorriu. - Dá-me a tua mão - disse ele. Chester pegou na mão da mãe com a sua e abriu os seus dedos grandes e familiares em leque. A seguir, inclinou-se para a frente e beijou o centro da mão dela. - Agora também tens uma Mão que Beija", disse ele. E com um gentil "adeus" e "amo-te" o Chester virou-se e dançou para longe. A sra. Guaxinim assistiu Chester a atravessar o galho de uma árvore e entrar na escola. E quando a coruja tocou para a entrada no novo ano letivo, ela encostou a mão esquerda na bochecha e sorriu. O calor do beijo do Chester encheu o seu coração com palavras especiais: "o Chester ama-te", cantou. "o Chester ama-te." EU AMO-TE Há 4 anos...
Cheguei ao hospital, 9h20 (era suposto ser às 9h00, mas tivemos de deixar a nossa filha com a nossa amiga Sónia e a Maria, para garantir que ela ficava perto do hospital e poderia visitar-nos ainda naquele dia. Tinha 2 anos e poucos dias e como nunca tinha ficado sozinha com elas, quisemos fazer as coisas com alguma tranquilidade). Chegámos ao hospital, entrei sozinha e o médico disse-me, então, que iríamos fazer a Cesariana e passou-me às enfermeiras para me prepararem. Já sabiamos há algum tempo que seria assim... A enfermeira disse-me para vestir a bata na casa-de-banho e para colocar todos os meus pertences num saco (que me deu). Antes de ir para a casa-de-banho, expliquei-lhe que tínhamos feito um Plano de Nascimento e entreguei-lho. Na realidade, era um Plano de Cesariana Humanizada. Dias antes tínhamos feito um pedido ao Conselho de Administração da Maternidade, para que fizessem uma revisão das regras praticadas naquela Maternidade, no que dizia respeito à presença de acompanhante durante uma cesariana eletiva. Pedíamos a presença do Pai num momento tão único como é o nascimento de um bebé (que é concebido por um pai e por uma mãe) e o (re)nascimento de uma família. Nesse pedido enviei um video de uma Cesariana Humanizada, enviei o relatório de uma petição que elaborei meses antes, em conjunto com a minha amiga Isabel Faia (e com a preciosa ajuda da Enfermeira Ana Lúcia Torgal), e que já tinha sido entregue na Assembleia da República. Essa petição já tinha tido uma audição pela Comissão da Saúde, da qual resultou um relatório em que constava que a petição constituía “um importante contributo cívico, merecendo ulteriormente ponderação mais aprofundada”. Este relatório também foi entregue. Em resposta, o Conselho de Administração remeteu a decisão final para o Diretor do Serviço… que era o meu Obstetra. E assim voltámos ao ponto de partida. Portanto, neste dia, quando entreguei o Plano Nascimento (Cesariana Humanizada), eu estava nervosa, num misto de esperança e medo que nos fosse recusado o principal: a presença do meu marido no nascimento do nosso filho. Enquanto me vestia, ouvia cá fora comentários ao nosso Plano de Nascimento… “Esta mãe deve ser doida! Um plano de nascimento de uma Cesarina?!”. Quando saí, foi-me dito que o pai não poderia estar presente… E mais umas coisas que deixei de ouvir. De tudo o que tinha posto no meu Plano de Nascimento, aquilo era única coisa que eu queria mesmo. Chorei, tremi, senti uma grande revolta, senti-me invadida por uma sentimento de injustiça. Entretanto o meu marido chegou e tentou apaziguar a minha dor, a nossa dor. Ele menos esperançoso que eu, já imaginava que seria este o desfecho. Se tivesse dito ao Obstetra: “Marque cesariana na clínica X” (privada), nada disto nos era recusado. O meu marido estaria comigo e eu já sabia disso. Sou uma pessoa que luta pelas suas convicções. E se eu acredito que é uma injustiça, que não pode ser a minha capacidade financeira que vai ditar se o meu filho tem direito à presença do pai no momento do seu nascimento, então eu luto… até quando já não vale a pena lutar. E o meu marido apoiou a minha vontade, ainda que isso o impedisse de algo que ele desejava muito: estar presente no nascimento do filho. O que eu gostava de ter percebido era que a nossa luta já estava terminada quando recebemos o relatório da petição. Tudo o que podíamos ter feito, estava feito e ia continuar a desenrolar-se naturalmente (como aconteceu). Eu gostava e ter pegado na minha indignação e procurado outro sítio para o meu filho nascer (felizmente eu podia escolher uma clínica privada, mas nem todos podiam e isso incomodava-me). Outro sítio, com outr@ médic@. Estaria a respeitar os direitos do meu filho e do meu marido. Eu gostava que o meu marido tivesse sobreposto a sua vontade de ver o filho nascer à minha vontade de coerência neste processo. Nada disto aconteceu e o meu filho nasceu no meio da minha luta. O meu filho é filho da luta pela presença de acompanhante durante uma cesariana eletiva. É filho de uma Mãe que fez muito (em conjunto com outras pessoas) para mudar a forma como se nasce em Portugal, em caso de cesariana electiva. Nasceu num momento em que a Mãe estava zangada, nervosa, a tremer mais do que nunca o tinha feito numa cesariana (e aquela já era a 3ª). Ainda consegui tomar consciência do meu estado emocional quando me preparava para receber epidural. Respirei fundo, posicionei-me e pedi a uma enfermeira que me deixasse apoiar-me nela no momento que estivesse a ser injetada na coluna, porque já sabia que a probabilidade de sentir um choque elétrico era grande (já era a 3ª vez) e eu precisava de estar imóvel. Queria minimizar a possibilidade de ter movimentos involuntários naquele momento. A resposta da enfermeira (que torceu o nariz e se mostrou pouco agradada com o meu pedido) relembrou-me a razão de me sentir alterada emocionalmente. Não podia ter comigo a pessoa certa para me apoiar naquele momento. A pessoa que não ia sentir qualquer desagrado com o meu pedido e para quem era mesmo importante poder ter aquele papel. Voltei a respirar fundo, engoli o meu choro e foquei-me no mais importante: o meu bebé estava quase a chegar… E às 11h38 nascia o meu bebé. O meu último M! Obrigada querido M por nos escolheres! Estes 4 anos foram tão intensos e maravilhosos... Ajudaste a construir tantas partes desta tua Mãe em Construção. Parabéns, filho! ❤︎ Desde que senti vontade de ser mãe que revelei ter uma preferência por um género. Muitas pessoas sentem-se indiferentes a isto. Eu, apesar de saber que não podia escolher, senti que tinha uma preferência e assumi-a. Gostava de ter uma menina.
Se tivesse um menino, isso também não seria um problema. Aliás, na minha primeira gravidez, pela minha ansiedade em saber o género do bebé, fiz um teste inicial e durante umas semanas estava convicta que ia ter um menino. Já o tratava pelo nome, já tinha começado a fazer um enxoval para ele. Quando o médico me disse, na ecografia, que era uma menina, eu tive uma grande surpresa e a sensação de desilusão por já não ter o meu bebé imaginado até então. Felizmente, passou depressa! Eu ia ter a minha desejada menina... Nunca soube explicar este desejo de ter uma menina, mas ele existia e não pensava muito na razão. Por outro lado, cheguei a ouvir desabafos de outras mães, que sentiam muito por terem meninas, pois sentiam que para os meninos as coisas eram mais simples... E eu não percebia o que queriam dizer... Não explorei, é verdade. Apenas aceitei que era o seu ponto de vista. Porém, há uns meses atrás, caiu-me "uma ficha"... Já passava das 21h00 do dia 29 de Dezembro (sexta-feira) e eu passeava com o meu marido e os meus filhos pelo "Jogo da Bola", onde estava montado um palco para as celebrações de Passagem de Ano que se avizinhavam. Havia um fluxo um pouco maior de gente, porque a Ericeira é destino de Passagem de Ano para alguns jovens. Os meus filhos brincavam por ali e eu sentei-me num banco de jardim a observar o que se passava. Do outro lado, sentados noutro banco de jardim, estavam 2 ou 3 homens da terra. Riam e comentavam sobre as miúdas que passavam... Até que passou uma rapariga que conhecia um deles e aproximou-se para o cumprimentar... ele também se afastou um pouco dos outros dois... Enquanto a miúda falava com o ele, os outros dois riam de forma pateta e faziam comentários, baixinho, mas provavelmente não suficientemente baixo que impossibilitasse que outras pessoas ali perto percebessem que estavam a comentar sobre a rapariga... A rapariga mostrou algum incómodo e saiu rapidamente da conversa, despendido-se à pressa. Imediatamente cairam-me lágrimas pela cara abaixo. Lembrei-me de todas as vezes que ouvi desabafos de outras mulheres sobre como seria mais fácil ter meninos. E naquele cenário eu vi o futuro da minha filha... Ali eu percebi que, ao contrário do meu filho, a minha filha não vai conseguir andar na rua à vontade, vestida como ela quiser sem receber comentários e olhares de homens... A minha filha não vai conseguir viajar sozinha, com o mesmo nível de segurança que o meu filho conseguirá... A minha filha não vai ter as mesmas oportunidades de trabalho que o meu filho e provavelmente irá receber menos para executar com a mesma competência as mesmas funções. Quando a minha filha for promovida pelas suas competências profissionais, pelo seu desempenho, provavelmente outras pessoas vão dizer que foi promovida porque se envolveu com o seu superior. Quando a minha filha se insurgir contra alguma coisa que sinta que é injusta, provavelmente vão dizer que é louca, e que não controla as suas emoções, que é desequilibrada, em vez de dizerem que é lutadora, que luta pelos seus ideais. Na realidade, naquele cenário eu vi o que aconteceu comigo todos estes anos, mas que não tive consciência, porque fui educada na normalização destes atos. Chega! Luto e lutarei pela igualdade de oportunidades, por um mundo mais justo para todos e todas. A minha luta começa na educação que dou aos meus filhos e nas mudanças que tenho feito na minha vida, porque comecei a rejeitar a normalização destes atos. Hoje sinto orgulho em ser Mulher, em ter gerado dentro de mim duas Mulheres e em ter colocado nas minhas intenções como Mãe a educação para a igualdade, para a equidade. Celebro 365 dias por ano o facto de ser Mulher, luto 365 dias por ano por esta equidade, no dia 8 de Março apenas assinalo o que ainda há para fazer e espero conseguir despertar outras Mulheres do sono da normalização destes atos! Quem se junta?
Nos dias que correm, as crianças e jovens têm acesso diário à internet.
Isto traz imensos benefícios no acesso a informação diversa, pois pode ajudar na pesquisa e desenvolvimento de interesses da escola e para além dela, permite conversar com amigos, esclarecer dúvidas com outros colegas enquanto estudam, partilhar informação... No entanto, além dos benefícios, existem também riscos online, sendo que alguns podem ser de natureza sexual. Não faz qualquer sentido impedir o acesso à internet, pois além de pouco eficaz, corre-se o risco de ter crianças e jovens a aceder à internet sem qualquer segurança ou supervisão. O melhor será sempre informar, consciencializar dos riscos e manter uma relação saudável em conexão (e esta requer uma construção).
Além deste video elaborado pela Polícia Judiciaria em colaboração com a Europol, partilho também o livro "Parentalidade na Era Digital" (disponível para download) que pretende colocar à disposição de pais e educadores ferramentas e dicas úteis para proteger as crianças e adolescentes online. Elaborado pela coach de parentalidade digital, Dra. Elizabeth Milovidov, J.D., este livro dá conselhos claros e práticos sobre a proteção de crianças contra a exploração e abuso sexuais online. Explica a terminologia, dá conselhos sobre aquilo a que os pais devem prestar atenção e diz como gerir e evitar as armadilhas.
Resumidamente, a parentalidade digital envolve: › Comunicar abertamente com os seus filhos; › Envolver-se regularmente nas atividades dos seus filhos na Internet; › Proteger ativamente a reputação e identidade digitais dos seus filhos; › Aprender, juntamente com os seus filhos, quais são as oportunidades que a Internet representa; › Proteger os seus filhos contra os perigos que a Internet representa; › Transpor as suas competências parentais para o mundo online. Ajude o(a) seu(sua) filho(a) a manter o controlo online! Hoje li esta notícia que me pareceu tão importante quanto óbvia, apesar de não estar de acordo com as alternativas propostas (deixá-los pensar sozinhos não é uma boa solução, na minha opinião, mas isso é matéria para outros post)... Parece-me que é uma posição que há muito fazia falta por parte dos especialistas americanos. Fui dar uma vista de olhos pela caixa de comentários e percebi que isto é obvio para poucas pessoas. Rapidamente deixei os comentários e lembrei-me de uma frase que partilhei por altura do mês de Abril, o mês da Prevenção dos Maus Tratos Infantis na Infância: E dei por mim a pensar: como será que a pessoas iriam reagir se o texto fosse assim:
Os especialistas americanos querem acabar de vez com a "palmada pedagógica". Não bater, esbofetear, ameaçar, insultar, humilhar ou meter medo, estas são as linhas vermelhas traçadas pela Academia Americana de Medicina na construção da relação com um marido. Uma atualização de boas práticas que não era feita há 20 anos e que foi publicada esta segunda-feira na revista especializada Husbands, onde as mulheres são incentivadas a impor a disciplina de forma saudável, através do reforço positivo ou da imposição de limites. Robert Serge, especialista em casais do Tufts Medical Center de Boston e primeiro autor do estudo 'Disciplina efetiva para criar maridos saudáveis', destaca à CNN os avanços na investigação nos últimos 20 anos que "nos levam a dizer com muito mais convicção que as mulheres nunca devem bater nos seus maridos e nunca devem usar insultos que humilhem ou envergonhem os maridos". Investigações que mostram uma relação direta entre os castigos físicos e comportamentos violentos nos maridos, assim como diminuição da massa cinzenta nos cérebros e sintomas depressivos mais tarde, na 3ª idade. E no entendimento dos especialistas americanos, a famosa "palmada pedagógica" - "bater com a mão aberta, sem causar ferimento, com o objetivo de modificar o comportamento do marido" - entra claramente na lista dos castigos corporais. Não bater, esbofetear, ameaçar, insultar, humilhar ou meter medo As novas orientações são bastante mais rígidas do que as publicadas em 1998, quando as mulheres eram aconselhadas a desenvolver métodos alternativos à palmada em resposta a um comportamento indesejado. "Esta nova diretiva encoraja os médicos a discutir com as mulheres a informação sobre os diferentes modelos disciplinares, para que elas possam tomar as suas decisões sobre como preferem criar os seus laços com os maridos", acrescenta Robert Serge. Uma ideia reforçada ao DN pela pedopsiquiatra Ana Vasconcelos. "É infantilizante para as mulheres dizer-lhes o que não podem fazer sem lhes explicar o que provoca essas reações. Os açoites ou a chantagem não são conscientes, mas impulsos face ao incómodo provocado pelas alterações repentinas de humor dos maridos. Temos de ajudar as mulheres a perceber que podem provocar essa situação com atitudes de intolerância". (...) Nos EUA a lei permite às mulheres infligir castigos físicos sobre os seus maridos em casa. Um estudo de 2004 mostrava que dois terços das mulheres americanas usavam algum tipo de violência física sobre os maridos, embora uma outra investigação, de 2013, tenha concluído que o número de pessoas a responder que "uma boa e dura palmada é por vezes necessária para disciplinar um marido" caiu de 84%, em 1984, para 70% em 2012. Como será que este texto ia ser recebido pelas pessoas que se manifestaram desagradadas com a posição da Academia Americana de Pediatria?! Será que iam achar normal e pedagógico algum tipo de violência entre 2 adultos quando um age desagradando o outro adulto? As crianças, tal como qualquer Ser Humano, tem direito ao respeito pela sua integridade (pelos seus limites físicos e psicológicos). Castigos físicos ou humilhações são desrespeito pelos seus limites físicos, pelos seus limites psicológicos. Na realidade, o desrespeito por estes limites sob pretexto de educação são uma forma de mostrar à criança que quando tiver poder sobre alguém (mais autoridade ou mais força, por exemplo) pode desrespeitar a integridade do outro. Será esta a intenção? Depois da partilha que fiz no último post, outra Mulher quis partilhar comigo a sua experiência e o que sentiu ao ver aquela entrevista... Então propus que partilhasse com a Mãe em Construção a sua história através de uma breve entrevista:
Mãe em Construção: - Como te sentiste ao ver aquela entrevista da Oprah Winfrey? Mulher: - Senti-me triste, com o coração muito apertado e com uma enorme vontade de abraçar os meus filhos... Nenhuma criança deveria ser exposta a situações destas e tomar consciência que na maioria das vezes o perigo é mais familiar do que desconhecido. Sinto-me muito insegura, desprotegida... Mãe em Construção: - Disseste-me que, além de teres tomado consciência do perigo, ainda tiveste outra tomada de consciência... Podes partilhar? Mulher: - Tomei consciência de que algumas experiências que tive na minha infância têm um nome: molestamento. Já tinha ouvido a palavra “molestar” várias vezes, sem nunca me ter apercebido do que se tratava verdadeiramente... Acho que não queria pensar nisso... Mãe em Construção: - Sentes que poderia ser uma forma de te protegeres das memórias dessas experiências? Mulher: - Sem dúvida! Era mesmo como se quisesse separar-me dessas memórias, dessa realidade... Mas em criança passei por isso, fui molestada! Fui tocada nas maminhas por um familiar, enquanto via televisão com ele no sofá. Devia ter uns 9 ou 10 anos, não sei... Começou por uma brincadeira de cócegas que foi evoluindo e já eram cócegas nas maminhas, mas que me causaram estranheza (talvez algum prazer) e desconforto. Não lhe disse nada, e não disse a mais ninguém... Também não me afastei dele, porque achei que por ser alguém familiar, de quem eu gostava e em quem confiava, que não haveria de ser errado... mas também não tinha a certeza que seria certo... Alguns dias depois a cena repetiu-se, outra vez a vermos televisão, novamente de forma progressiva, com umas cócegas. Não tenho memória exata de quantas vezes aconteceu, mas talvez umas quatro vezes. Talvez eu tenha começado a oferecer mais resistência, não sei... E uns anos antes, talvez com uns 5 anos, fui beijada na boca por outra pessoa próxima. Essa pessoa tinha mais uns 6/7 anos que eu e estava no início adolescência. Também era alguém em quem eu confiava, de quem gostava e com quem convivia. Nas nossas brincadeiras no quarto, acabou por beijar-me na boca e eu senti uma ambivalência dentro de mim: gostava da pessoa, mas também sentia que o que estava a fazer-me não era correto... Não deixei de querer brincar com a pessoa e não me mostrei zangada... Voltei a procurá-la para brincar noutro dia e voltou a acontecer, mas lembro-me de tentar afastá-la no momento em que aconteceu novamente... É só isto que me lembro. Mãe em Construção: - Como foram estes anos? Como conviveste com isso? Mulher: - Nunca contei a ninguém... Nem à minha melhor amiga. Tinha vergonha. Sentia que havia ali algo de errado. Sentia também que eu tinha facilitado isto. Sentia culpa. Há uns anos atrás refleti sobre isso e questionei se seria culpa minha... Se a pessoa que me molestou aos 5 anos estaria a descobrir-se e a envolver-me nessa descoberta... Se isso seria algo normal naquela idade e eu estaria a atribuir um significado errado... Se as cócegas nas maminhas teriam sido inocentes e o toque nessa zona erógena poderia ter sido casual... Assim guardei tudo no “saco”, até ver o vídeo e perceber que a única inocente nestas histórias fui eu! Mãe em Construção: - E hoje, como vês tudo isso? Mulher: - Hoje eu sei que não foi nada que eu tivesse feito, não havia qualquer responsabilidade minha nestes episódios. Eu apenas gostava das pessoas e queria relacionar-me com elas, receber carinho. Acreditei que aquela forma de me mostrarem o seu amor era normal... Nem com 5, nem com 10 anos, não tinha maturidade para entender nada disto. Sinto alguma revolta e medo que isto aconteça com algum dos meus filhos e sinto-me grata por nunca ter sido mais do que isto. Mãe em Construção: - Qual a tua intenção ao partilhares isto com a Mãe Em Construção? Mulher: - A minha intenção é mostrar à pessoas que o perigo pode viver perto ou longe e, por isso, é importante conversarem com as suas crianças, esclarecê-las para que saibam distinguir o que é aceitável fazerem com elas e o que não é aceitável. Para que elas saibam que é importante falar com os pais sobre o que sentem de menos estranho na relação com outras pessoas... É preciso que se entenda que forçar as crianças a ter contacto afetivo, íntimo com pessoas - mais ou menos familiares -, como um beijo para cumprimentar alguém que elas não querem beijar, pode ser mesmo uma forma de lhes mostrar que não são elas que mandam no seu corpo... e que se elas não mandam, quem manda pode ser alguém com algum tipo de poder sobre elas. É uma forma de mostrar que mesmo que sintam desconforto, devem ignorar esse desconforto. É urgente respeitar o corpo das crianças, o seu espaço vital! Relembrando os valores base da Parentalidade Consciente, que nos ajudam muito na orientação da nossa relação com as nossas crianças, sejam filhos, netos, sobrinhos, alunos... Igual Valor - Respeito pela Integridade - Autenticidade - Responsabilidade Pessoal Em breve irei falar um pouco sobre estes 4 valores...
Recentemente várias notícias têm trazido à tona questões sobre consentimento, sobre o poder do “Não”, sobre o valor da vontade da criança em relação ao contacto íntimo com outras pessoas (sejam avós, outros familiares ou amigos) e a sua relação com as regras de educação...
Tenho-me sentido triste e até chocada com alguns comentários, mas também satisfeita com esta oportunidade de reflexão, para mim e para muita gente. No Círculo de Mulheres do qual faço parte, de alguma forma este tema foi puxado. Não foi o tema central, mas o facto de ser uma excelente oportunidade de reflexão levou o grupo a dar-lhe maior ênfase, discutindo-o muito e trazendo muitas partilhas pessoais. Uma das Mulheres partilhou que viu há uns anos uma entrevista da Oprah Winfrey a um grupo de pedófilos. E a partir dessa entrevista, ela partilhou com a filha algumas indicações para que ela pudesse proteger-se. Pedi a esta Mulher para partilhar com a Mãe em Construção aquilo que ela tinha dito à filha na altura, pois a sua partilha ressoou em mim e achei que poderia ajudar outras Mães ou outros Pais a protegerem as suas crianças. Há vários anos, quando vi o programa da Oprah em que ela entrevista um grupo de pedófilos, tive tomadas de consciência muito fortes.
Fiquei curiosa em relação à entrevista que falou, e fui procurá-la.
Tal como com esta Mulher, esta entrevista teve um enorme impacto em mim. O facto de perceber que as crianças não contam o que se passa, porque estes abusadores também conseguem fazê-las sentirem-se bem, porque são alguém em quem elas confiam muito e com quem gostam de estar... Perceber que nada disto acontece de forma brusca, mas existe antes um crescendo, um avanço na confiança que vão conseguindo por parte das crianças... Que angústia! É um tema difícil, eu sei, e o argumento de que isto só acontece nos EUA não é válido de todo... Basta darem uma olhadela aqui, onde podem ler relatos reais de casos que aconteceram no nosso país. Agradeço a esta Mulher pela sua partilha, da forma simples como abordou o tema com a filha e agradeço a todas as outras Mulheres do meu Círculo por se permitirem ir mais além, refletirem para além do que é manifesto, por partilharem e cuidarem de si e, ao mesmo tempo, de todas nós. Gostava que todas as pessoas pudessem ter um espaço seguro, de apoio e reflexão, como este. Convido-vos a ver o vídeo, e também vos deixo um resumo da entrevista.
4 Coisas que Precisas de Saber Sobre o Abuso Sexual Infantil
O Mito do Perigo do Estranho Em janeiro de 2010, Oprah sentou-se com quatro molestadores de crianças internados e a sua terapeuta, Dawn Horwitz-Person, para uma discussão franca sobre o ciclo de abuso, detalhes gráficos dos seus crimes e como preparavam metodicamente as suas vítimas. "Fui violada aos 9 e molestada dos 9 aos 14 anos e, por causa disso, sempre quis ser capaz de me sentar e conversar com um grupo de molestadores de crianças e perguntar porquê e como fazem o que fazem.” Oprah diz. "É a conversa mais honesta que já tive com criminosos sexuais." Depois “entrar” na mente destes molestadores, Oprah diz que há quatro coisas que todos devemos saber: Primeiro, 90% dos molestadores de crianças conhecem as suas vítimas. A maioria não são estranhos que se escondem nos arbustos, à espera para raptar crianças. "Estamos a falar de amigos da família, tios, pais, irmãos e vizinhos", diz Oprah. "Menos de 10% dos molestadores são os estranhos que vemos nos noticiários a raptar crianças." Antes de Lee ser apanhado a molestar uma menina de 5 anos, ele diz que era um amigo próximo da família da menina. A sua vítima chegou a chamá-lo de "avô". "Ela confiou mais em mim do que nos pais", diz Lee. Tanto Darren quanto David estavam relacionados com as suas vítimas. David diz que molestou e violou um familiar próximo durante 12 anos, enquanto Darren já foi sexualmente obcecado pela sua filha de 12 anos. No início, Darren diz que tinha fantasias sexuais com a filha. Então, começou a agir sobre essas fantasias. Ele começou a tocá-la de forma inadequada enquanto ela dormia, ou fingia dormir por medo. Com o tempo, o abuso aumentou. "Perguntei-lhe se poderia copular oralmente e ela disse não", diz Darren. "Ela realmente disse-me uma vez 'eu não queria que fizesses isso porque és meu pai'". Apesar do pedido, Darren diz que o abuso continuou. A segunda coisa que Oprah quer que todos os pais saibam é que os molestadores não escolhem as suas vítimas aleatoriamente. Eles procuram crianças vulneráveis, ganham a sua confiança e seduzem-nas. "É tudo muito calculado, e é tudo muito deliberado", diz Oprah. "Sem confiança... o abuso sexual não é possível. A confiança é o fator número um que eles precisam para ter sucesso." Robert, um homem que violou quatro raparigas jovens, disse que ganhou a confiança delas dizendo-lhes que as amava. Também procurou raparigas que exibiam características semelhantes. "Eu vejo raiva nela - raiva contra os pais, retaliação contra os seus pais", diz ele. "Eu vejo a confiança delas em mim." Dawn (a terapeuta) diz que alguns molestadores não acham que estão a fazer nenhum mal porque não causam dor física à criança. "Eu acho que é por isso que o abuso continua, também, por causa desse relacionamento de confiança", diz ela. "Elas muitas vezes não berram, não gritam, não contam de imediato, o que reforça o sistema de crenças deles." David diz que ele foi capaz de seduzir e violar um membro da família porque ela foi negligenciada por seus pais. "Eu era o único no mundo dela que a ouvia, quem a validaria", diz ele. "Isso deu-me muito poder sobre ela." A terceira lição é que alguns abusadores são tão cúmplices, que são capazes de manipular as suas vítimas e fazer com que o molestamento as faça sentirem-se bem. "Isso confunde a criança levando-a a culpar-se quando a culpa nunca é da vítima", diz Oprah. De acordo com esses homens, o processo de "preparação" começa cedo e, a princípio, é subtil. "Iniciei o meu processo de preparação ouvindo-a, e então passei a ouvi-la com a mão no ombro dela", diz David. "Então abraçávamo-nos no sofá, e eu estava a prepará-la para me tornar fisicamente íntimo com ela." Darren diz que esfregou as costas e os pés da filha para que ela se acostumasse a ser fisicamente tocada por ele antes que ele começasse a tocá-la sexualmente. "Isto cria uma espécie de vínculo", diz ele. "Eu sabia que estava errado, mas justifiquei isso na minha cabeça dizendo que era uma coisa especial entre nós e que eu não estava a magoá-la." Apesar de Lee ter 60 anos quando molestou uma criança de 5 anos, ele diz que realmente acreditava que estava a dar-lhe prazer físico. "Não acha que era um velho nojento?" pergunta Oprah. "Na época em que começou, sim", diz Lee. "Depois de ter começado, para mim era tarde demais para parar." Por último - e mais importante - esses molestadores de crianças assumidos dizem que há coisas que os pais podem fazer para proteger os seus filhos e filhas. Primeiro, Lee diz estar alerta. "Não precisas de desconfiar de todos", diz ele. "Mas pelo menos abre os olhos, olha à tua volta e vê o que está a acontecer." Se estás numa festa e percebes que alguém passa mais tempo com as crianças do que com os adultos, Lee diz que é uma bandeira vermelha. Quando a filha de Darren relatou o seu abuso pela primeira vez, Darren disse que ela mentiu, para se livrar. Agora, ele adverte os pais a prestarem atenção aos sinais dos seus filhos e a ouvi-los. "Quando dizem que alguém lhes tocou, acredita neles, porque as crianças não mentem sobre essas coisas", diz ele. "Muitas vezes, livram-se porque os pais acreditam no adulto em vez de acreditarem no filho. Ouve as crianças." "Existe alguma coisa que a sua filha poderia ter feito para tê-lo impedido?" pergunta Oprah. "Ela fez. Ela denunciou-me e estou muito orgulhoso dela por isso", diz Darren. "Ela tinha todo o direito de proteger- se, e estou feliz por ela ter tomado essa iniciativa." Se és vítima de abuso, Oprah diz que a melhor maneira de parar é contar a alguém. "Se eles não acreditam em ti, continua a dizer até que alguém acredite", diz ela. "Molestadores não querem que fales. Diz a alguém hoje!" (tradução livre do site: http://www.oprah.com/oprahshow/4-things-to-know-about-child-molestation/all) Tens regado a semente da autoestima das crianças com quem convives? A Parentalidade/Educação Consciente pode dar-te uma ajuda... |