Recentemente várias notícias têm trazido à tona questões sobre consentimento, sobre o poder do “Não”, sobre o valor da vontade da criança em relação ao contacto íntimo com outras pessoas (sejam avós, outros familiares ou amigos) e a sua relação com as regras de educação...
Tenho-me sentido triste e até chocada com alguns comentários, mas também satisfeita com esta oportunidade de reflexão, para mim e para muita gente. No Círculo de Mulheres do qual faço parte, de alguma forma este tema foi puxado. Não foi o tema central, mas o facto de ser uma excelente oportunidade de reflexão levou o grupo a dar-lhe maior ênfase, discutindo-o muito e trazendo muitas partilhas pessoais. Uma das Mulheres partilhou que viu há uns anos uma entrevista da Oprah Winfrey a um grupo de pedófilos. E a partir dessa entrevista, ela partilhou com a filha algumas indicações para que ela pudesse proteger-se. Pedi a esta Mulher para partilhar com a Mãe em Construção aquilo que ela tinha dito à filha na altura, pois a sua partilha ressoou em mim e achei que poderia ajudar outras Mães ou outros Pais a protegerem as suas crianças. Há vários anos, quando vi o programa da Oprah em que ela entrevista um grupo de pedófilos, tive tomadas de consciência muito fortes.
Fiquei curiosa em relação à entrevista que falou, e fui procurá-la.
Tal como com esta Mulher, esta entrevista teve um enorme impacto em mim. O facto de perceber que as crianças não contam o que se passa, porque estes abusadores também conseguem fazê-las sentirem-se bem, porque são alguém em quem elas confiam muito e com quem gostam de estar... Perceber que nada disto acontece de forma brusca, mas existe antes um crescendo, um avanço na confiança que vão conseguindo por parte das crianças... Que angústia! É um tema difícil, eu sei, e o argumento de que isto só acontece nos EUA não é válido de todo... Basta darem uma olhadela aqui, onde podem ler relatos reais de casos que aconteceram no nosso país. Agradeço a esta Mulher pela sua partilha, da forma simples como abordou o tema com a filha e agradeço a todas as outras Mulheres do meu Círculo por se permitirem ir mais além, refletirem para além do que é manifesto, por partilharem e cuidarem de si e, ao mesmo tempo, de todas nós. Gostava que todas as pessoas pudessem ter um espaço seguro, de apoio e reflexão, como este. Convido-vos a ver o vídeo, e também vos deixo um resumo da entrevista.
4 Coisas que Precisas de Saber Sobre o Abuso Sexual Infantil
O Mito do Perigo do Estranho Em janeiro de 2010, Oprah sentou-se com quatro molestadores de crianças internados e a sua terapeuta, Dawn Horwitz-Person, para uma discussão franca sobre o ciclo de abuso, detalhes gráficos dos seus crimes e como preparavam metodicamente as suas vítimas. "Fui violada aos 9 e molestada dos 9 aos 14 anos e, por causa disso, sempre quis ser capaz de me sentar e conversar com um grupo de molestadores de crianças e perguntar porquê e como fazem o que fazem.” Oprah diz. "É a conversa mais honesta que já tive com criminosos sexuais." Depois “entrar” na mente destes molestadores, Oprah diz que há quatro coisas que todos devemos saber: Primeiro, 90% dos molestadores de crianças conhecem as suas vítimas. A maioria não são estranhos que se escondem nos arbustos, à espera para raptar crianças. "Estamos a falar de amigos da família, tios, pais, irmãos e vizinhos", diz Oprah. "Menos de 10% dos molestadores são os estranhos que vemos nos noticiários a raptar crianças." Antes de Lee ser apanhado a molestar uma menina de 5 anos, ele diz que era um amigo próximo da família da menina. A sua vítima chegou a chamá-lo de "avô". "Ela confiou mais em mim do que nos pais", diz Lee. Tanto Darren quanto David estavam relacionados com as suas vítimas. David diz que molestou e violou um familiar próximo durante 12 anos, enquanto Darren já foi sexualmente obcecado pela sua filha de 12 anos. No início, Darren diz que tinha fantasias sexuais com a filha. Então, começou a agir sobre essas fantasias. Ele começou a tocá-la de forma inadequada enquanto ela dormia, ou fingia dormir por medo. Com o tempo, o abuso aumentou. "Perguntei-lhe se poderia copular oralmente e ela disse não", diz Darren. "Ela realmente disse-me uma vez 'eu não queria que fizesses isso porque és meu pai'". Apesar do pedido, Darren diz que o abuso continuou. A segunda coisa que Oprah quer que todos os pais saibam é que os molestadores não escolhem as suas vítimas aleatoriamente. Eles procuram crianças vulneráveis, ganham a sua confiança e seduzem-nas. "É tudo muito calculado, e é tudo muito deliberado", diz Oprah. "Sem confiança... o abuso sexual não é possível. A confiança é o fator número um que eles precisam para ter sucesso." Robert, um homem que violou quatro raparigas jovens, disse que ganhou a confiança delas dizendo-lhes que as amava. Também procurou raparigas que exibiam características semelhantes. "Eu vejo raiva nela - raiva contra os pais, retaliação contra os seus pais", diz ele. "Eu vejo a confiança delas em mim." Dawn (a terapeuta) diz que alguns molestadores não acham que estão a fazer nenhum mal porque não causam dor física à criança. "Eu acho que é por isso que o abuso continua, também, por causa desse relacionamento de confiança", diz ela. "Elas muitas vezes não berram, não gritam, não contam de imediato, o que reforça o sistema de crenças deles." David diz que ele foi capaz de seduzir e violar um membro da família porque ela foi negligenciada por seus pais. "Eu era o único no mundo dela que a ouvia, quem a validaria", diz ele. "Isso deu-me muito poder sobre ela." A terceira lição é que alguns abusadores são tão cúmplices, que são capazes de manipular as suas vítimas e fazer com que o molestamento as faça sentirem-se bem. "Isso confunde a criança levando-a a culpar-se quando a culpa nunca é da vítima", diz Oprah. De acordo com esses homens, o processo de "preparação" começa cedo e, a princípio, é subtil. "Iniciei o meu processo de preparação ouvindo-a, e então passei a ouvi-la com a mão no ombro dela", diz David. "Então abraçávamo-nos no sofá, e eu estava a prepará-la para me tornar fisicamente íntimo com ela." Darren diz que esfregou as costas e os pés da filha para que ela se acostumasse a ser fisicamente tocada por ele antes que ele começasse a tocá-la sexualmente. "Isto cria uma espécie de vínculo", diz ele. "Eu sabia que estava errado, mas justifiquei isso na minha cabeça dizendo que era uma coisa especial entre nós e que eu não estava a magoá-la." Apesar de Lee ter 60 anos quando molestou uma criança de 5 anos, ele diz que realmente acreditava que estava a dar-lhe prazer físico. "Não acha que era um velho nojento?" pergunta Oprah. "Na época em que começou, sim", diz Lee. "Depois de ter começado, para mim era tarde demais para parar." Por último - e mais importante - esses molestadores de crianças assumidos dizem que há coisas que os pais podem fazer para proteger os seus filhos e filhas. Primeiro, Lee diz estar alerta. "Não precisas de desconfiar de todos", diz ele. "Mas pelo menos abre os olhos, olha à tua volta e vê o que está a acontecer." Se estás numa festa e percebes que alguém passa mais tempo com as crianças do que com os adultos, Lee diz que é uma bandeira vermelha. Quando a filha de Darren relatou o seu abuso pela primeira vez, Darren disse que ela mentiu, para se livrar. Agora, ele adverte os pais a prestarem atenção aos sinais dos seus filhos e a ouvi-los. "Quando dizem que alguém lhes tocou, acredita neles, porque as crianças não mentem sobre essas coisas", diz ele. "Muitas vezes, livram-se porque os pais acreditam no adulto em vez de acreditarem no filho. Ouve as crianças." "Existe alguma coisa que a sua filha poderia ter feito para tê-lo impedido?" pergunta Oprah. "Ela fez. Ela denunciou-me e estou muito orgulhoso dela por isso", diz Darren. "Ela tinha todo o direito de proteger- se, e estou feliz por ela ter tomado essa iniciativa." Se és vítima de abuso, Oprah diz que a melhor maneira de parar é contar a alguém. "Se eles não acreditam em ti, continua a dizer até que alguém acredite", diz ela. "Molestadores não querem que fales. Diz a alguém hoje!" (tradução livre do site: http://www.oprah.com/oprahshow/4-things-to-know-about-child-molestation/all) Tens regado a semente da autoestima das crianças com quem convives? A Parentalidade/Educação Consciente pode dar-te uma ajuda...
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