Hoje li esta notícia que me pareceu tão importante quanto óbvia, apesar de não estar de acordo com as alternativas propostas (deixá-los pensar sozinhos não é uma boa solução, na minha opinião, mas isso é matéria para outros post)... Parece-me que é uma posição que há muito fazia falta por parte dos especialistas americanos. Fui dar uma vista de olhos pela caixa de comentários e percebi que isto é obvio para poucas pessoas. Rapidamente deixei os comentários e lembrei-me de uma frase que partilhei por altura do mês de Abril, o mês da Prevenção dos Maus Tratos Infantis na Infância: E dei por mim a pensar: como será que a pessoas iriam reagir se o texto fosse assim:
Os especialistas americanos querem acabar de vez com a "palmada pedagógica". Não bater, esbofetear, ameaçar, insultar, humilhar ou meter medo, estas são as linhas vermelhas traçadas pela Academia Americana de Medicina na construção da relação com um marido. Uma atualização de boas práticas que não era feita há 20 anos e que foi publicada esta segunda-feira na revista especializada Husbands, onde as mulheres são incentivadas a impor a disciplina de forma saudável, através do reforço positivo ou da imposição de limites. Robert Serge, especialista em casais do Tufts Medical Center de Boston e primeiro autor do estudo 'Disciplina efetiva para criar maridos saudáveis', destaca à CNN os avanços na investigação nos últimos 20 anos que "nos levam a dizer com muito mais convicção que as mulheres nunca devem bater nos seus maridos e nunca devem usar insultos que humilhem ou envergonhem os maridos". Investigações que mostram uma relação direta entre os castigos físicos e comportamentos violentos nos maridos, assim como diminuição da massa cinzenta nos cérebros e sintomas depressivos mais tarde, na 3ª idade. E no entendimento dos especialistas americanos, a famosa "palmada pedagógica" - "bater com a mão aberta, sem causar ferimento, com o objetivo de modificar o comportamento do marido" - entra claramente na lista dos castigos corporais. Não bater, esbofetear, ameaçar, insultar, humilhar ou meter medo As novas orientações são bastante mais rígidas do que as publicadas em 1998, quando as mulheres eram aconselhadas a desenvolver métodos alternativos à palmada em resposta a um comportamento indesejado. "Esta nova diretiva encoraja os médicos a discutir com as mulheres a informação sobre os diferentes modelos disciplinares, para que elas possam tomar as suas decisões sobre como preferem criar os seus laços com os maridos", acrescenta Robert Serge. Uma ideia reforçada ao DN pela pedopsiquiatra Ana Vasconcelos. "É infantilizante para as mulheres dizer-lhes o que não podem fazer sem lhes explicar o que provoca essas reações. Os açoites ou a chantagem não são conscientes, mas impulsos face ao incómodo provocado pelas alterações repentinas de humor dos maridos. Temos de ajudar as mulheres a perceber que podem provocar essa situação com atitudes de intolerância". (...) Nos EUA a lei permite às mulheres infligir castigos físicos sobre os seus maridos em casa. Um estudo de 2004 mostrava que dois terços das mulheres americanas usavam algum tipo de violência física sobre os maridos, embora uma outra investigação, de 2013, tenha concluído que o número de pessoas a responder que "uma boa e dura palmada é por vezes necessária para disciplinar um marido" caiu de 84%, em 1984, para 70% em 2012. Como será que este texto ia ser recebido pelas pessoas que se manifestaram desagradadas com a posição da Academia Americana de Pediatria?! Será que iam achar normal e pedagógico algum tipo de violência entre 2 adultos quando um age desagradando o outro adulto? As crianças, tal como qualquer Ser Humano, tem direito ao respeito pela sua integridade (pelos seus limites físicos e psicológicos). Castigos físicos ou humilhações são desrespeito pelos seus limites físicos, pelos seus limites psicológicos. Na realidade, o desrespeito por estes limites sob pretexto de educação são uma forma de mostrar à criança que quando tiver poder sobre alguém (mais autoridade ou mais força, por exemplo) pode desrespeitar a integridade do outro. Será esta a intenção?
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Depois da partilha que fiz no último post, outra Mulher quis partilhar comigo a sua experiência e o que sentiu ao ver aquela entrevista... Então propus que partilhasse com a Mãe em Construção a sua história através de uma breve entrevista:
Mãe em Construção: - Como te sentiste ao ver aquela entrevista da Oprah Winfrey? Mulher: - Senti-me triste, com o coração muito apertado e com uma enorme vontade de abraçar os meus filhos... Nenhuma criança deveria ser exposta a situações destas e tomar consciência que na maioria das vezes o perigo é mais familiar do que desconhecido. Sinto-me muito insegura, desprotegida... Mãe em Construção: - Disseste-me que, além de teres tomado consciência do perigo, ainda tiveste outra tomada de consciência... Podes partilhar? Mulher: - Tomei consciência de que algumas experiências que tive na minha infância têm um nome: molestamento. Já tinha ouvido a palavra “molestar” várias vezes, sem nunca me ter apercebido do que se tratava verdadeiramente... Acho que não queria pensar nisso... Mãe em Construção: - Sentes que poderia ser uma forma de te protegeres das memórias dessas experiências? Mulher: - Sem dúvida! Era mesmo como se quisesse separar-me dessas memórias, dessa realidade... Mas em criança passei por isso, fui molestada! Fui tocada nas maminhas por um familiar, enquanto via televisão com ele no sofá. Devia ter uns 9 ou 10 anos, não sei... Começou por uma brincadeira de cócegas que foi evoluindo e já eram cócegas nas maminhas, mas que me causaram estranheza (talvez algum prazer) e desconforto. Não lhe disse nada, e não disse a mais ninguém... Também não me afastei dele, porque achei que por ser alguém familiar, de quem eu gostava e em quem confiava, que não haveria de ser errado... mas também não tinha a certeza que seria certo... Alguns dias depois a cena repetiu-se, outra vez a vermos televisão, novamente de forma progressiva, com umas cócegas. Não tenho memória exata de quantas vezes aconteceu, mas talvez umas quatro vezes. Talvez eu tenha começado a oferecer mais resistência, não sei... E uns anos antes, talvez com uns 5 anos, fui beijada na boca por outra pessoa próxima. Essa pessoa tinha mais uns 6/7 anos que eu e estava no início adolescência. Também era alguém em quem eu confiava, de quem gostava e com quem convivia. Nas nossas brincadeiras no quarto, acabou por beijar-me na boca e eu senti uma ambivalência dentro de mim: gostava da pessoa, mas também sentia que o que estava a fazer-me não era correto... Não deixei de querer brincar com a pessoa e não me mostrei zangada... Voltei a procurá-la para brincar noutro dia e voltou a acontecer, mas lembro-me de tentar afastá-la no momento em que aconteceu novamente... É só isto que me lembro. Mãe em Construção: - Como foram estes anos? Como conviveste com isso? Mulher: - Nunca contei a ninguém... Nem à minha melhor amiga. Tinha vergonha. Sentia que havia ali algo de errado. Sentia também que eu tinha facilitado isto. Sentia culpa. Há uns anos atrás refleti sobre isso e questionei se seria culpa minha... Se a pessoa que me molestou aos 5 anos estaria a descobrir-se e a envolver-me nessa descoberta... Se isso seria algo normal naquela idade e eu estaria a atribuir um significado errado... Se as cócegas nas maminhas teriam sido inocentes e o toque nessa zona erógena poderia ter sido casual... Assim guardei tudo no “saco”, até ver o vídeo e perceber que a única inocente nestas histórias fui eu! Mãe em Construção: - E hoje, como vês tudo isso? Mulher: - Hoje eu sei que não foi nada que eu tivesse feito, não havia qualquer responsabilidade minha nestes episódios. Eu apenas gostava das pessoas e queria relacionar-me com elas, receber carinho. Acreditei que aquela forma de me mostrarem o seu amor era normal... Nem com 5, nem com 10 anos, não tinha maturidade para entender nada disto. Sinto alguma revolta e medo que isto aconteça com algum dos meus filhos e sinto-me grata por nunca ter sido mais do que isto. Mãe em Construção: - Qual a tua intenção ao partilhares isto com a Mãe Em Construção? Mulher: - A minha intenção é mostrar à pessoas que o perigo pode viver perto ou longe e, por isso, é importante conversarem com as suas crianças, esclarecê-las para que saibam distinguir o que é aceitável fazerem com elas e o que não é aceitável. Para que elas saibam que é importante falar com os pais sobre o que sentem de menos estranho na relação com outras pessoas... É preciso que se entenda que forçar as crianças a ter contacto afetivo, íntimo com pessoas - mais ou menos familiares -, como um beijo para cumprimentar alguém que elas não querem beijar, pode ser mesmo uma forma de lhes mostrar que não são elas que mandam no seu corpo... e que se elas não mandam, quem manda pode ser alguém com algum tipo de poder sobre elas. É uma forma de mostrar que mesmo que sintam desconforto, devem ignorar esse desconforto. É urgente respeitar o corpo das crianças, o seu espaço vital! Relembrando os valores base da Parentalidade Consciente, que nos ajudam muito na orientação da nossa relação com as nossas crianças, sejam filhos, netos, sobrinhos, alunos... Igual Valor - Respeito pela Integridade - Autenticidade - Responsabilidade Pessoal Em breve irei falar um pouco sobre estes 4 valores... |